sábado, 29 de janeiro de 2011

Catarina

Catarina sentou na escada que subia para a  pequena igreja. Era uma igreja antiga, escondida em qualquer esquina vazia do centro da cidade, onde podiam-se ouvir, meio que abafados pela distância, carros buzinando, vozes estridentes, música alta e outros sons vagos e barulhos corriqueiros. Na tal rua da igreja, porém, só o que havia era silêncio e Catarina (exceto por um ou dois transeuntes e um bem-te-vi bicando qualquer coisa rente à valeta). Seus cabelos escuros, tortuasamente repicados por uma tesoura escolar, faziam cócegas em seus ombros pequenos e brancos feito leite; e os olhos, da cor do mel, estavam fixos no asfalto brilhante. Uma folhinha, pequena que só, caiu sobre o joelho da menina. Seus lábios esboçaram um sorriso. Logo voltaram a uma expressão séria. Sabia que devia estar em casa. Mas. Mas? Mas Catarina não tinha casa. Olhou os pés descalços, um pouco sujos. Tentava manter-se limpa. As ruas eram sujas e a sujeira impregnava a pele de quem nelas residia. Muitas outras pessoas que moravam nos prédios imponentes que as sombreavam  pensavam que não, mas também eram. A cidade é encardida.
 É fato que tinha feito amigos pelas avenidas, sim, mas seus olhos distantes imaginavam se um dia moraria em um daqueles prédios, ou se, de pequena, morara em alguma casa qualquer, com alguma mãe. Só de pensar um pouquinho, dava pra sentir como devia ser bom. Mas passava rápido. Imaginava se tinha um nome. Achava Catarina bonito, e por isso o escolhera. Era Catarina. Mas qual era seu nome? Quem era Catarina?
Catarina tinha fome de pão e muitas outras fomes e sedes preenchiam a menina, também.
Começou a chover. Fechou os olhos e derramou seu pranto silencioso junto com com a chuva, para disfarçar as lágrimas.

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